Tinhas a pele arrepiada pelo sentimento.
Os olhos rasos de contentamento.
A vida trazias nas mãos abertas.
E o fruto do nosso encontro era uma alma cheia de presente,
sem medo do futuro e sem necessidade de olhar o passado.
Querias-me assim como eu te queria.
Eternamente.
Que era o mesmo que dizer, enquanto durasse.
O nosso eterno era o momento, pleno, e não havia promessas feitas ao entardecer.
O que dávamos estava em todos os gestos,
em todos os olhares, no encontrar dos corpos.
Nada de planos para o futuro,
nada de palavras vãs para encher o vazio.
Não existia o vazio.
Mas quando olhávamos para nós sentimo-nos cheios de mais.
A sonhar o que não podíamos ter uma vida inteira.
Não acreditávamos que a vida se desse assim,
como uma fruta fresca em pleno verão.
Estranho o destino humano.
Tudo o que é bom demais faz-nos afastar, evitar.
Nem sequer tocamos com o medo de estragar.
Para que nada mude,
não chegamos a viver tudo o que se oferece aos nossos olhos.
E partimos antes mesmo de chegar.
Ana Teresa Silva
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