amei-te como um sobrevivente doutro mundo doutros rios
inundada de algas e plumas restos de asas na boca turgida e urgente
eras um grito da montanha debaixo da minha pele
um tigre aceso com olhos de carvão com garras de diamante e
a mesma força do nilo numa barca à deriva.
amei-te cheia de fome e sede molhada de frutos e ervas
e os teus rins aconteciam relâmpagos vermelhos e maciços.
o tempo era uma almofada apertando a alma
os gestos eram precisos claros e lá fora a cidade era um ponto
luminoso na ponta dos teus dedos cortantes densos turvos como
as horas de fechar a porta. os olhos voaram fora de nós e aí
nos deixámos adormecer.
fiz-te uma cama de espuma e na minha boca dobraste o cabo do medo.
quando partiste levaste o verão e eu fiquei sentada bordando no ar
um castelo de beijos e um filho de luar.
Isabel Ferreira
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