Eu sou aquela que passou na vida
sem achar nunca o porto que buscava.
Eu sou aquela que andou dia a dia
numa constante, fatigante lida
presa nas malhas da melancolia,
querendo só o que não alcançava.
Eu sou aquela que buscando a glória,
entrou na luta sem saber lutar.
Rudes batalhas, lutas sem vitória,
contra outros e mesmo contra mim,
foram as que eu, arfante e a meu pesar,
travei com sombras sem razão nem fim.
Eu sou aquela que bateu às portas
de quantas ilusões a vida encerra,
nela buscando, a sós, de terra em terra,
novas raízes de fecundas vidas,
sempre as achando apenas convertida
sem mudas sombras de cidades mortas.
Nada encontrei do que alcançar quisera:
sumiu-se a luz de cada primavera
neste vazio de ambição faminta;
e, se o gosto provei da saciedade,
frustrada foi a minha ansiosa espera,
pois mais não tive, ao fim da tempestade,
que a inútil paz da minha lareira extinta.
Donde vem e onde vai este caminho
que me leva em tão estranha direcção?
a mão de Deus guiando-me adivinho
por entre o frio hostil da cerração.
Quando, na sina de ansiedade errante
que orienta a minha incerta caminhada,
sinto o cansaço do correr da vida,
volto-me a olhar a estrada percorrida...
e, silenciosa, vou seguindo avante.
Olva Guera
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